01 – Mares de Minas

Paulo Barroso e Arnaldo Afonso
BXPA11400015


o poeta abre os braços e voa

a caminho do mar

não do mar cheio de águas e conchas

mas de um outro que há

um mar enorme de gentes, de nomes

ondas que vêm derramar

seu movimento no peito dos homens

marés de amar, desamar

solidões que o poeta retrata

e desata a chorar

será a falta de amor que maltrata

ou o que mata é lembrar?

vai reaver cada gota de pranto

pra toda dor represar?

vai desfazer dos seus cantos o encanto

até desencantarolar?

na cidade pequenina

a saudade foi morar

tinha o sino da igrejinha

tinha a sina de cantar

tinha a pedra no caminho

e os mistérios do lugar

tinha o mar, rodamoinho

e eu, sozinho, a desvendar

pensamento que é feito de asa

te liberta do chão

inventando um caminho pra casa

sobrevoa o sertão

cidadezinhas tão pequenininhas

visões de gaviãozão

quando entro dentro do imenso das Minas

sou peixe-boi de arribação

quem me diz qual montanha não cisma

de molhar os pés no mar

ou que mar não quer ter lá de cima

a beleza de olhar?

gira o dia a dia dos homens pequenos

o seu veloz carrossel

sonhos e trilhas se enroscam no tempo

onde é meu chão, é meu céu

na cidade pequenina

a saudade foi morar

tinha um clube na esquina

tinha o mundo a transformar

tinha o tronco onde um dia

desenhei um coração

tinha o mar que arrastaria

o que eu tinha em minhas mãos

o poeta, entre versos que fogem

ama o que a vida dá

porque a soma das obras de um homem

são espumas no mar

ah! quanto tempo me sobra, quem sabe?

ainda que tarde, virá

meu mar de minas nos olhos não cabe

mar, doce mar, de mirar

mar, doce mar, marejar

mar doce de admirar

voz e violãoPaulo Barroso

rabeca e violaGalba

violasLuiz Salgado e Zão Bulhões

tecladoJoão Bittencourt

guitarrasLuiz Bró

baixoCelso Henrique

bateriaWillians Leite

percussão – Manu

citações – várias: de artistas e da cultura mineira