O início
O primeiro violão que peguei na mão foi a “Isabel” que o meu irmão Luiz comprara assim que arrumou um emprego de office-boy. Depois, com meus próprios recursos, vieram a Margarida, Janaína, Diana e, mais recentemente, a Nova que, de tão nova, ainda não tem idade pra ser batizada.
Tinha quinze anos quando comecei a arranhar a Isabel e acho que ela não gostou muito, não. Tanto que pedi para a minha mãe, de presente de aniversário, para tomar aulas de violão. As economias dela só deram para um mês de aprendizado com um colega de escola, o Renato, que era baixista dos Estranhos, um conjunto de baile do qual participavam também os Biancalana, famosos na Vila Maria. Naquele ano de 1967 havia um conjunto em cada esquina, influenciados, principalmente, pelos Beatles. Os mais famosos do bairro eram os Thunderbirds e o Twonck.
Assim que aprendi os três primeiros acordes básicos, ousadamente, compus minha primeira canção e depois vieram várias outras, influenciadas pelos Beatles e pela Jovem Guarda.
E também, mais ousadamente ainda, em 1968, criei a minha primeira banda, ou melhor, conjunto de baile, como se dizia na época. Com duas guitarras, baixo e bateria, formamos o The Golden Sun in the Black World, tocando sucessos da época, principalmente os internacionais. Eu fazia a guitarra-base (uma Apollo com alavanca que compramos com o dinheirinho dos bailes) e a voz principal. Nosso reduto era a Vila Sabrina, bairro em que ficava a casa do Preché, o baixista, na qual ensaiávamos. Tocávamos até uma composição minha “I don’t have money”, que tinha uma estrofe assim: “I don’t have money / but I have you / I love this life / because I love you…” o resto da letra era embromation que, felizmente naquela época, não era percebido pelos nossos fãs…
Éramos adolescentes e fazíamos o que todo adolescente da época queria: tocar num conjunto. Fizemos vários bailes até que, um acidente trágico acabou por desfazer o nosso sonho: o Preché havia morrido afogado na represa Billings. Foi um baque tão grande que todos pararam de tocar, exceto eu, que sabia que o Preché, onde estivesse, não gostaria que desistíssemos dos nossos sonhos. O Preché, inclusive, havia me arrumado um belo emprego como cobrador de assistência médica para empregadas domésticas.
E, em respeito à ele, continuei a fazer música, agora partindo para a carreira solo com minhas próprias canções. Em português, claro.