08 – Vítimas
(retrato minucioso de um fato verídico)
Paulo Barroso
BXPA11400008
trabalhava num trampo de matar
era caixa num banco do Aguiar
cheques, saldos, carnês e impropérios
recebia e pagava com seu sangue
e o salário mal dava pra rangar
certo dia o gerente lhe chamou
e, num tom indiferente, o dispensou
ficou mudo, parado, cego e pálido
mas saiu conformado com a sorte
e animou-se ao descer do elevador
e saiu procurando um novo emprego
qualquer coisa que desse prá viver
foi até um pai de santo se benzer
pra ter sossego
percorreu todo o “Estado” de domingo
e a cidade… corria todo mês
e ele foi desmilinguindo
não chegara a sua vez
mas quando a fome bateu e a barriga roncou
ele se desesperou
e pensou e chegou à conclusão
(tá pior, quem trabalha, que ladrão)
e bolou um grande plano, frio e lógico
e, numa tarde, entrou em outro banco
com um revólver enrustido e o coração na mão
e chamou o tesoureiro e lhe entregou
um bilhete que continha a sua dor:
“somos homens que, da fome, fomos vítimas
e comigo tem mais sete e três lá fora
pra acertar o vigilante e o contador”
mas só era um truque esta tropa
e, logo, o tesoureiro se tocou
e, cheio de malícia, o convidou
prum café na copa
e ele, puro e tolo, foi sorrindo
(talvez inda pudesse se empregar)
e a cilada foi surgindo
não iria se entregar
e a polícia invadiu o recinto e fez
com que embarcasse de vez
voz e violão – Paulo Barroso
baixo – Celso Henrique
bateria – Willians Leite
percussão – Manu
trompetes – Edynilson Santos
trompa – Thiago Bilu
trombone – Ricardo Bueno
sonoplastia – Arquivo Logic Pro 9